“Não é necessário estarmos horas consecutivas a ouvirmos um rouxinol a cantar, para nos encantarmos com a beleza do seu canto: um chilrear isolado é suficiente; uns segundos a escutar o som das cigarras é o bastante para nos deleitarmos com tão requintada textura; alguns instantes ouvindo as ondas do mar são relaxantes. Imaginemos uma música que não tenha início – apenas comece – e não tenha fim – somente pare; sem clímax ou qualquer intenção de atingir um fim; uma música que não crie expectativas, sem frases ou articulação; sem movimento ou direcção definidos; uma música onde os eventos sonoros existam por eles mesmos em vez de participarem em qualquer progressão ou desejo de cadência. O objectivo de ELECTRONIC SUÍTE é o de a um módulo sonoro acrescentarmos um outro, depois outro e ainda outro e por aí contiguamente, sem qualquer relação aparente entre eles, excepto o puro encanto de construirmos um abstracto encadeamento musical. Diferenças mínimas no input musical (efeitos de phasing, distorções, delays), podem tornar-se em diferenças enormes no output musical. Uma espécie de Efeito Borboleta Musical. O micro interfere com o macro.”
Vítor Rua
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