A temática dos comedores de batatas tem estado presente em várias obras recentes de vários artistas: Bela Tarr, Maria Beatriz, Wang Bing. Todos herdando do original de Van Gogh.
Resolvi pegar também no tema, tão actual, e criar uma versão muito simples, a enésima comedora de batatas em discurso directo e online, reflectindo, comendo, e talvez usando narinas e ouvidos como receptáculos de batatas ou de outros objectos.
Vera Mantero estudou dança clássica com Anna Mascolo e integrou o Ballet Gulbenkian entre 1984 e 1989. Começou a sua carreira coreográfica em 1987 e desde 1991 tem mostrado o seu trabalho por toda a Europa, Argentina, Brasil, Canadá, Coreia do Sul, EUA e Singapura.
Participa regularmente em projectos internacionais de improvisação ao lado de improvisadores e coreógrafos como Lisa Nelson, Mark Tompkins, Meg Stuart e Steve Paxton. Desde o ano 2000 dedica-se igualmente ao trabalho de voz, cantando repertório de vários autores e co-criando projectos de música experimental. Em 1999 a Culturgest organizou durante um mês uma retrospectiva do seu trabalho realizado até à data e que se intitulou “Mês de Março, Mês de Vera”. “Comer o Coração”, trabalho criado em parceria com o escultor Rui Chafes, representou Portugal na 26ª Bienal de São Paulo 2004.
No ano de 2002 foi-lhe atribuído o Prémio Almada (IPAE / Ministério da Cultura) e no ano 2009 o Prémio Gulbenkian Arte pela sua carreira como criadora e intérprete.
Para mim a dança não é um dado adquirido, acredito que quanto menos o adquirir mais próxima estarei dela, uso a dança e o trabalho performativo para perceber aquilo que necessito de perceber, vejo cada vez menos sentido num performer especializado (um bailarino ou um actor ou um cantor ou um músico) e cada vez mais sentido num performer especializadamente total, vejo a vida como um fenómeno terrivelmente rico e complicado e o trabalho como uma luta contínua contra o empobrecimento do espírito, o seu e o dos outros, luta que considero essencial neste ponto da história.