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2MIKKERS – Imaginário e Lágrima

UMA VIAGEM À CONSTRUÇÃO DE UNIVERSOS

Auditório do Solar da Música Nova
(Ponto Encontro VA Loulé) / Qui 17 OUT 23h30

SPOKEN WORD / 40' / M6 / Entrada Livre

Dois sonhadores vocais encontraram-se no meio de um livro onde se podiam ler, com minúcia, as lágrimas de um planeta em alteração. Para tal acontecer o imaginário de cada um deles teria de se desconstruir em vibração e através de frequências, podendo assim entender os hieróglifos escritos nas cataratas descendentes das paisagens inóspitas. Um planeta vivo pelo qual viajaram observando infindáveis possibilidades e relatando vários possíveis futuros desse domo de matérias alteradas e interligadas.

Entre sonoridades expansivas e textos evasivos eles – Lágrima e Imaginário, unem-se para desbravar caminho na conquista galáctica de um vasto universo auditivo e corpóreo.

Nesta viagem em concreto, abordando o tema da criação de universos, juntam-se a eles dois terrestres com variações menores em música intergaláctica – Alberto Hernandez e Miguel Guerreiro, donos de teclas, cordas e ondas electrónicas em caixas sintéticas.


Direcção Artística e Textos: João Caiano, Martim Santos
Músicos: Miguel Guerreiro, Alberto Hernandez

Imaginário: João Caiano é apenas um caminhante que regularmente se vira ao contrário por não controlar a gravidade. O seu caminhar é meio matemático e meio – venha o que vier, “eu sei que consigo virar-me se cair de costas”. Entre suas palavras saem cânticos de vários outros membros da sua génese, é de uma raça que vive em sintonia, transmitindo assim noções e visões do planeta residente. Imaginário e só uns milhões de imaginários.

Lágrima: Martim Santos é uma frequência escura originária num mar de sal da cratera mais distante da 2ª lua existencial norte. Viajou no tempo desconstruindo-se em bosões para encontrar ferramentas sónicas que lhe permitissem combater a morte dos sentimentos causada pela expansão molecular das emoções do Universo que habitava. Utiliza ecos tectónicos para criar ambientes emergentes capazes de prender a matéria negra num olhar. A transformação de palavras em energia permite-lhe uma osmose telepática que cria memórias falsas e recolhe os medos mais profundos convertendo-os em poesia sonar com recurso a silêncios e respirações.


Grupo de Crítica VA9 – Áudio & Textos

Conversa 18 OUT 2019 – Teatro das Figuras, Faro

Sobre a performance
Texto de Soraya Ferreira Alves
2 Mikkers – Imaginário e Lágrimas de João Caiano e Martim Santos se propõe a levar o espectador a “uma viagem à construção de universos“. À primeira vista, o caos, a desordem. A ansiedade do personagem de branco (João), confronta a tristeza do personagem de preto (Martim), que sente “A dor de amar um planeta inteiro“. Sua voz, suave e baixa, parece um lamento. Um lamento pela vida, pela Terra Devastada – Waste Land – Elliot. “This is the way the world ends… Not with a bang, but a whimper“. Mas na Terra arrasada por interesses econômicos, pelo vazamento do petróleo que contamina o ambiente, uma árvore, a princípio seca, persiste. Essa mesma árvore será depois preenchida com folhas de jornal, em um momento emblemático e metafórico. O personagem de branco subitamente tenta arranjar fios emaranhados que também envolvem a árvore. No entanto, cada tentativa frenética causa um emaranhado ainda maior, uma das causas de sua queda, no centro do palco, em posição fetal, como se tentasse voltar ao início, à vida. Já é tarde. Convulsiona, morre. Apesar do fim trágico, parece haver ainda uma esperança. Um bebê nasce. Coberto de petróleo, assemelha-se ao personagem de preto, que lamenta, mas que ama e sofre pelo planeta e tenta fazer algo por ele, ao rearranjar os poucos elementos cênicos, como caixas e pedaços de papel. O caos persiste, mas uma nova ordem tenta se estabelecer. Nos 40 minutos da performance, o espectador vive, muito também ajudado pela trilha sonora, momentos de incômodo, estranheza, dúvida e mal-estar. Porém, o texto poético e sensível leva à reflexão e à sensação de que algo pode surgir da feiura e do caos.
25 Outubro 2019