Quanto mais olhas mais vês
As ideias são como peixes. Se queres apanhar peixes pequenos, podes ficar em águas rasas. Mas se queres apanhar os grandes, tens de mergulhar mais fundo.
David Lynch
O FESTIVAL VERÃO AZUL, um dos principais projectos de programação da casaBranca, dedica-se à promoção da criação transdisciplinar contemporânea e das artes performativas no território algarvio. A 12ª Edição deste Festival apresenta-se como um laboratório multifacetado onde as artes performativas, sonoras e plásticas convergem para desafiar fronteiras estéticas e conceptuais. A programação propõe reflexões sobre o corpo na sua dimensão política, social, urbana e pós-humana, abordando as suas hibridizações com a tecnologia e as suas implicações éticas; propõe ainda a relação entre eco-crítica e interdependência global, reflectindo sobre as formas em que a arte pode criar, ou dar visibilidade, a redes que conectam indivíduos, comunidades e ecossistemas.
O universo sonoro, denso e hipnótico, que atravessa esta edição conduz-nos por territórios entre a estrutura e a improvisação. Entre performances, concertos, dj sets, exibição de filmes e actividades paralelas, a reflexão sobre o virtual expande as possibilidades de expressão humana, questiona o “real”, a condição corpórea e a identidade numa era de hiperconexão e sobre-exposição tecnológica. Nesta paisagem de realidades deslizantes, evocamos a visão singular de David Lynch (1946-2025), mestre em explorar as fissuras do quotidiano e os mistérios ocultos sob a superfície do mundo visível.
Com artistas de Portugal, Espanha, Grécia, Polónia, Roménia, Escócia, Brasil, Uruguai, o festival mantém a intenção de trazer projectos inovadores e experimentais ao público do Algarve, visando consolidar a sua missão fundadora de fomentar o diálogo e enraizar novas dinâmicas culturais na região.
O festival aposta na sensibilização e formação de públicos com diversas estratégias: para além dos diversos espectáculos inclui ainda uma sessão de cinema, que inaugura o Festival em parceria com o Cineteatro Louletano (Loulé), com o documentário Queendom de Agniia Galdanova. O espectáculo Solas de Candela Capitán, pela primeira vez em Portugal, acontece numa parceria com o Teatro das Figuras (Faro) e inclui o transporte de autocarro a partir de Lagos, onde o público é convidado à escuta e à experiência de uma instalação sonora de Guilherme Curado; além disso, mantém-se, à semelhança de outros anos, a organização de conversas pós-espectáculos.
A programação acontece também para além dos espaços normalmente destinados a manifestações culturais, como a Exposição Salaris – Ficções a partir do Sal (Minas de Sal-Gema em Loulé, em parceria com os artistas Victor Gonçalves, Maura Grimaldi e Natália Loyola, e a Galeria Alfaia), o concerto de autoria de David Leitão e Inês Defalc, nas Piscinas Municipais (Loulé) e nas actividades no Antigo Armazém do Carnaval em Loulé (Gustavo Sumpta, Despina Sanida Krezia, e Not Binary Code).
É neste cruzamento entre reflexão e acção, e na afirmação da força do indivíduo, do colectivo e da cidade, que o Festival Verão Azul se apresenta: uma plataforma viva onde a arte desafia, desacomoda e ressignifica.